O CONTROLE DA LEPRA E O PAPEL DOS PREVENTÓRIOS:
EXCLUSÃO SOCIAL E INTERAÇÕES SOCIOESPACIAIS DOS
EGRESSOS DO EDUCANDÁRIO ALZIRA BLEY NO ESPÍRITO
SANTO
Nome: ELAINE CRISTINA ROSSI PAVANI
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 26/03/2019
Orientador:
Nome | Papel |
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AURÉLIA HERMÍNIA CASTIGLIONI | Orientador |
Banca:
Nome | Papel |
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AURÉLIA HERMÍNIA CASTIGLIONI | Orientador |
EDUARDO AUGUSTO MOSCON OLIVEIRA | Examinador Externo |
JÚLIO CESAR DE LIMA RAMIRES | Examinador Externo |
SEBASTIÃO PIMENTEL FRANCO | Examinador Externo |
SYRLÉA MARQUES PEREIRA | Examinador Externo |
Resumo: lepra sempre foi vista pela sociedade como uma ameaça e, por muito tempo, a única solução para o problema era o isolamento compulsório. No Brasil, Getúlio Vargas (1934) lança o Plano Nacional de Combate à Lepra que previa a construção de leprosários em todos os estados brasileiros. Tal plano se alicerçava no tripé: leprosários (para os infectados), dispensários (para os comunicantes) e preventórios (para os filhos indenes). No Espírito Santo foram construídos o Hospital Colônia Pedro Fontes, também conhecido como Colônia de Itanhenga e o Educandário Alzira Bley, localizados em Cariacica. O Educandário foi inaugurado em 11 de abril de 1937 com a finalidade de acolher os filhos indenes encaminhados para lá por meio de medidas regulamentares que estabeleciam a segregação imediata dos filhos dos leprosos logo após o nascimento nos hospitais-colônia. O isolamento compulsório das pessoas atingidas pela lepra e de seus filhos nos preventórios baseou-se em teorias científicas (sanitarismo/higienismo/eugenismo) que o legitimavam, e em um contexto de maior controle estatal sobre os assuntos nacionais. A partir de 1980, o uso da Poliquimioterapia (PQT) foi aconselhado para o tratamento de todas as pessoas com hanseníase no mundo, chegando ao fim o isolamento dos leprosos. Dentro deste contexto houve também o fim do isolamento compulsório dos filhos indenes que habitavam os educandários. Estes, por sua vez, foram (re) introduzidos na sociedade. O relatório preliminar da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (25/09/2012), sobre os filhos segregados de pais portadores de lepra submetidos à política de isolamento compulsório, mais de 33.689 crianças foram isoladas ao longo de 59 anos, período que durou o isolamento dos filhos. No Espírito Santo são mais de mil crianças. A hipótese que norteia este estudo é que a implantação de uma política pública de segregação pelo Estado transformou de maneira profunda e irreversível a vida social e violou os direitos de muitas crianças e adolescentes internados compulsoriamente no Educandário Alzira Bley. O objetivo deste trabalho foi demonstrar as estratégias políticas e espaciais utilizadas para a segregação social da população leprosa e sua prole sadia no Espírito Santo; apresentar aspectos da vida dos internos dentro das instituições preventoriais, caracterizar a população dos egressos na atualidade e as consequências da segregação na vida deles. A metodologia empregada para odesenvolvimento da pesquisa envolve as pesquisas bibliográfica, documental e pesquisa empírica com aplicação de questionários e os relatos das histórias de vida dos ex-internos do Educandário Alzira Bley. A partir destas informações pudemos traçar o perfil desta população que foi (re) introduzida na sociedade após o fim da internação compulsória: são pessoas com baixo grau de escolaridade; dispostas a ocupar subempregos ou empregos com baixa remuneração; que se estabeleceram majoritariamente em bairros próximos ao Educandário ou na RMGV, apresentando baixa autoestima e dificuldades para manter os relacionamentos familiares.